Acidentes com aeronaves na Europa são mais frequentes do que possivelmente imaginamos. Estima-se que entre 60% e 70% das quedas de helicópteros sejam provocadas por erro humano, particularmente por parte dos pilotos. Perda do controlo da aeronave, falhas na operação do rotor de cauda (a hélice), problemas de navegação em condições meteorológicas adversas ou tomada de decisões inadequadas durante voos de baixa visibilidade, constituem algumas das causas principais.
Os relatórios internacionais no erro humano apontam sempre para o facto de os pilotos não se encontrarem aptos, designadamente: a) por falta de treino adequado para manobras de emergência e por falta de experiência em determinadas manobras, durante o voo, que os levam a cometer erros fatais; b) por fadiga e tensão pelas longas horas de voo, agravadas por condições de trabalho precárias ou insustentável pressão psicológica; e c) por consumos inadequados, como álcool, estupefacientes ou medicamentos que, forçosamente, afetam as capacidades cognitivas e físicas de quem se encontra aos comandos.
A investigação é sempre meticulosa e demorada, podendo até durar anos com relatórios intercalares pelo menos de 12 em 12 meses, descrevendo os progressos da investigação, bem como os problemas de segurança eventualmente encontrados, e terminará com um relatório final, o qual indicará as causas prováveis do acidente juntamente com recomendações para evitar acidentes futuros.
Se o erro for humano, isto é, do piloto, ocorrerá apreensão e perda da licença de piloto comercial de helicóptero, seguindo-se um processo judicial em que lhe será imputado um crime de homicídio, por negligência, cuja pena pode chegar aos cinco anos.
A investigação forense de acidentes de aeronaves não é famosa em Portugal, desde o acidente de 4 de dezembro de 1980, da avioneta Cessna em que o primeiro-ministro da altura, Francisco Sá Carneiro, e outros cinco ocupantes, seguiam em direção ao Porto, e se despenhou no bairro das Fontaínhas, em Camarate, junto ao aeroporto de Lisboa, logo após levantar voo. Passados 44 anos, as dúvidas das causas do sinistro ficam para a história e para a imaginação dos historiadores, porque a linha de investigação da Polícia Judiciária redundou na tese de acidente muito mal explicado, não se percebendo se houve erro humano, se avaria mecânica, ou se a combinação de ambos os fatores.
Esperemos que a investigação ao acidente de Peso da Régua decorra no tempo certo. Não basta um dia de luto nacional para que a memória histórica não se apague. Importa – e acima de tudo – saber a verdade.